Como nasceu a capa

Tem sido muito bacana observar a reação das pessoas ao bater os olhos pela primeira vez na capa de “O fole roncou!”.
“Vibrante!”, “alegre”, “chamativa” foram algumas das palavras que ouvimos nos dois lançamentos realizados até agora. O banner, produzido pela Zahar a partir da capa do livro, também tem sido bastante elogiado – tinha até gente tirando foto ao lado dele, na Bienal de Campos. Para desvendar um pouco do esmerado processo de criação (reparem na forma que a letra L é desenhada na palavra “fole” do título, praticamente vira um “sofá” para a letra “E”), resolvemos trazer aqui para o blog uma entrevista com “o pai da criança”: Rafael Nobre, diretor de arte da Babilonia Cultura Editoria, responsável pela criação da capa do nosso livro, “O fole roncou!”. Rafael trabalhou a partir de uma sugestão nossa (a obra do genial xilogravurista Jota Borges, pernambucano de Bezerros), prontamente aceita pelo pessoal da editora.  Fala, Rafael!
O que pesou na escolha da xilogravura “Forró sertanejo”, de Jota Borges? O que o atrai, como designer, no trabalho do xilogravurista pernambucano e no imaginário nordestino?
No Briefing para a criação deste trabalho que recebi da editora foi sugerido o uso de uma gravura de J. Borges. Recebi duas imagens (“Forró sertanejo” e “Forró pé de serra”) para a criação dos layouts.
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Foi na faculdade que tive o primeiro contato com a técnica de xilografia. Aprendi os conceitos básicos e produzi algumas gravuras nesta técnica fascinante. Mais ou menos nesta época conheci o trabalho incrível do artista J. Borges, um dos grandes nomes da gravura popular brasileira. Foi um grande prazer e responsabilidade trabalhar sobre uma de suas imagens.
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 Você poderia falar um pouco sobre a fonte utilizada no título do livro? É desenhada? Quais foram as referências para o trabalho de criação da fonte? Como foi o processo de desenvolvimento da fonte?
A fonte do título foi criada exclusivamente para este livro, ela foi desenhada manualmente e depois digitalizada com o intuito de preservar suas irregularidades. A tipografia que J. Borges usa em suas gravuras também serviu de inspiração para compor os nomes dos autores do livro. Assim, tipografia e imagem compartilham da mesma linguagem visual.
Na contracapa, o uso de cores quentes e de detalhes da xilogravura também tornou o resultado final bem atraente. Essa solução veio de imediato ou exigiu maior elaboração?
Pretendi fazer uma capa bem colorida, usei a paleta de cores da gravura. Trabalhei a imagem na quarta capa de um modo mais gráfico, usando apenas duas cores para dar um pouco de dinamismo e contraste em relação a capa. Decidi por esta combinação de cores quentes para transmitir o calor humano e a energia da música e da dança representados na imagem.
O que você, como criador, destacaria no resultado final da capa? Fez outras versões da capa até chegar na versão definitiva? Quanto tempo foi necessário, da concepção até a execução?

Fiz dois layouts para esta capa: um para cada imagem que me foi enviada pela editora. Além da capa, me foi pedido para fazer o verso de capa com as capas dos discos de forró. Este primeiro estudo levou cerca de 15 dias. Após esta etapa foram pedidos alguns ajustes na composição até chegarmos ao resultado final. Este processo levou por volta de 10 dias. A escolha da imagem de capa foi muito acertada e como disse anteriormente, partiu da editora. Procurei valorizar a imagem e integrá-la as informações textuais de modo harmônico. Criar uma boa capa de livro depende não somente do designer, mas também de bons editores e produtores gráficos que colaboram cada um com seu conhecimento para um resultado que seja satisfatório para todos.

 Fazer capa de livro é tão difícil quanto tocar sanfona? 
Sim e não. Algumas capas pedem mais tempo de trabalho e reflexão, outras saem com mais facilidade. Mas, ter de sintetizar em uma imagem o conteúdo de um livro é sempre desafiador, assim como é preciso ter agilidade e criatividade para tocar sanfona.
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O que você mais gosta no seu trabalho de designer e direção de arte?
Gosto do desafio de comunicar visualmente um conceito que pode vir, por exemplo de um texto ou uma música. O trabalho de um designer é por natureza colaborativo, estamos a todo tempo trabalhando com fotos, tipografias, ilustrações e textos que muitas vezes não foram feitos por nós, daí surge o desafio de compor, editar e criar em cima de tudo isso, tornando o produto final um objeto de desejo.
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Para conhecer mais o incrível trabalho do Rafael Nobre e da Babilonia, acesse https://www.facebook.com/babiloniaeditorial

Histórias de sanfona, suor e chamego

Abaixo, o release oficial do nosso livro, “O fole roncou! Uma história do forró”, que tem 472 páginas e chega às livrarias a partir do dia 19 de outubro. O lançamento em Brasília está previsto para o dia 10 de novembro, no shopping Casa Park.

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Desde que Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira ensinaram ao Brasil como se dança o baião, nos anos 1940, a nossa música nunca mais foi a mesma. Ao baião, juntaram-se o xaxado, o coco, o arrasta-pé, o xote e outros ritmos nordestinos: assim nasceu o forró. Sete décadas depois, ele resiste como um dos mais autênticos gêneros musicais brasileiros, sobrevivendo a modismos, às bruscas mudanças do mercado fonográfico e ao desaparecimento de alguns dos principais representantes.

A partir de mais de 80 entrevistas e documentos inéditos, “O fole roncou! Uma história do forró”, dos jornalistas Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues, reconstitui a trajetória desse estilo musical, por meio de episódios marcantes da vida artística e pessoal de nomes como Gonzagão, Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos, Trio Nordestino, Genival Lacerda, Anastácia, Antonio Barros, Elino Julião, Jacinto Silva, Abdias, Trio Mossoró, entre muitos outros.

“Gonzaga e Jackson são os nomes mais famosos, os que já foram biografados e estudados em livro; mas a história do forró é tecida pela vida e obra de centenas de músicos de enorme talento e pouca visibilidade, que o encorparam e sustentaram como a principal expressão musical dos nordestinos”, lembra o paraibano Braulio Tavares. Escritor e compositor, Braulio assina a orelha do livro, do qual destaca a clareza e angência da narrativa.

Em 470 páginas, os autores percorrem dos anos 1930 à primeira década do século 21 e ressaltam ainda a importância de artistas como Elba Ramalho, Alceu Valença e Fagner na continuidade dessa história, desdobrada nos últimos anos com o surgimento, no Ceará, do forró eletrônico e do forró universitário, em São Paulo, também registrados no livro.

O impacto da migração nordestina na identidade cultural brasileira serve como pano-de-fundo da narrativa, pois muitas letras são autênticas crônicas do dia-a-dia dos nordestinos que deixaram a sua terra. Casos engraçados e dramáticos se alternam com episódios sombrios (a perseguição da censura nos anos 1970 aos compositores de letras de duplo sentido, pela primeira vez revelada em livro) e com a gênese de sucessos como “Procurando Tu”, “Eu só quero um xodó”, “Severina Xique-Xique” e “Danado de bom”.

Em linguagem acessível, os autores revelam facetas menos conhecidas de músicos, cantores e compositores com algo em comum, além da origem e do talento: a capacidade de superação diante de adversidades naturais, econômicas e sociais. Enriquecido com fotos preciosas de arquivo e manuscritos originais de letras conhecidas, “O fole roncou!” reúne histórias de sanfona, suor e chamego, protagonizadas por expoentes da música brasileira popular e contadas no ritmo contagiante dos gigantes do forró.

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Ah, a capa do livro, reproduzida acima, é de Rafael Nobre, da Babilonia Cultura Editorial, a partir da xilogravura “Forró sertanejo”, do pernambucano J. Borges.