Encontro com Geraldo Correia

Autor da dissertação de mestrado Com Respeito aos oito baixos – Um estudo etnomusicológico sobre o estilo nordestino da Sanfona de oito baixos (UFRJ, 2011), o músico e pesquisador Leonardo Rugero nos deu uma entrevista preciosa, utilizada no último capítulo do livro. Na entrevista, que mais à frente aparecerá na íntegra neste blog, Rugero define o paraibano Geraldo Correia como “João Gilberto dos oito baixos”:

– Arredio e de poucas palavras, Geraldo se manteve a maior parte do tempo relativamente recluso,o que se reflete em sua carreira errática e sua discografia pouco numerosa. No entanto, em oposição ao seu isolamento,é um sanfoneiro mítico,  influenciando gerações seguintes e deixando sua marca indelével de intérprete e criador. Muito intenso, consegue derramar na música tudo aquilo que não deixa transparecer em seu temperamento introvertido.

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Pois bem: posso dizer que o encontro com Geraldo, na varanda de sua casa, em Campina Grande, foi um dos momentos de maior realização profissional da minha carreira. A entrevista aconteceu em 23 de dezembro de 2010, e teve a participação decisiva do cantor e embolador Biliu de Campina, figuraça que está no livro e que também será tema de post mais à frente.

Biliu ajudou a “quebrar o gelo” com o naturalmente arredio Geraldo, conhecido pelos amigos e nas rodas de choro pelo apelido de Mucufa. Recuperando-se de uma queda, ainda sentindo fortes dores nas costas, Mucufa superou as dificuldades e nos contou histórias de seu convívio com Jackson do Pandeiro (uma delas, dramática, está no livro), com o pernambucano Moacir Santos, dos forrós onde tocou no Rio e em São Paulo, de como conheceu Pedro Sertanejo, das gravações que fez no selo Cantagalo, das serenatas que fez com músicos do porte de Abel Ferreira e Porfírio Costa… episódios reunidos em mais de oito décadas de existência.

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Com Biliu (C) e Geraldo Correia, em Campina Grande: lições de música e de vida

Ao seu estilo, com poucas palavras, Geraldo Correia nos deu uma definição sucinta e precisa para o seu ofício:

– Música é ritmo, harmonia e sentimento.

A surpresa veio no fim da entrevista. De súbito, Geraldo levantou da varanda e entrou em sua casa. Alguns minutos depois, voltou com sua sanfoninha e, sem dizer uma palavra, começou a tocar. Fez um pequeno concerto no qual impressionou pela destreza e apuro – e nos emocionou pela lindeza daquelas composições. Esse momento foi tão marcante que uma tentativa de reproduzi-lo aparece no epílogo do livro. Mas, mais do que o registro, ficou a lembrança do que aconteceu naquela manhã quente em Campina Grande, quando, faltando dois dias para o Natal, Geraldo Correia nos presenteou com a força da sua música. (CM)

 

 

Fotos: Carlos Marcelo e João Henrique Carvalho (segunda foto)